“E o Acordo Ortográfico”, perguntaram-me. Respondo: ”aqui, pouco me interessa”. Uso hifens ao acaso, acentuo por descuido. Para, pára, para-raios, pára-raios, pararraios? Raios. Escrevo amnistia (anistia), e também fato (facto): minha indulgência é a possibilidade de dupla grafia.
As consoantes mudas, não articuladas (actor, óptimo, exacto), dispenso por brasilidade – ou as reforço por preciosismo. Maiúsculas, minúsculas, circunflexos, agudos, confio-me a negligência da intuição, sem as exigências normativas da “reforma” – que me perdoe Antônio Houaiss.
Encanto-me não por ortografiquices, mas pelos desacordos fonéticos, sintáticos e pragmáticos de nossos portugueses: pronúncias, calões, expressões, barbarismos e usos vocabulares. Eis o que diferencia, e caracteriza, as nossas línguas. Eis o que me (en)leva.
Lusofonias são questões políticas, e econômicas (ou económicas), que devem ser discutidas no terreno conflituoso das várias ciências sociais – e para lá emigro quando quero conversá-las. Lá.
Peço licença, então, para – nestes textos – fugir do imbróglio diplomático e me divertir com as diferenças entre um gambá e uma doninha-fedorenta, uma bolinha-de-gude e um berlinde, um chapéu-de-chuva e um guarda-chuva, sem me preocupar com as novas regras de hifenização, tampouco com a correcção da grafia “antiga” ou com a crítica ao colonialismo às avessas do mercado editorial brasileiro.
Talvez a graça esteja, nestas linhas, em discutir pentelhos. E a isto, presto-me aqui.
(H.Hein)